terça-feira, 10 de setembro de 2013

Tempo

De repente você se vê envolvido em um turbilhão de coisas que a nenhum momento deixa a sua cabeça. Pensar em muitas coisas é que nem pensar em nada, e nada eu não tenho tido o luxo de pensar, e se tivesse, preferia pensar em nada do que ser incapaz de pensar em tudo. Respira. Envolto desse furação de obrigações que vivo, faculdade, TCC, política, arte, grupos, viagens, estudos, palestras, peças, festivais, trabalhos, oficinas, hospital, temporada, estágio, pós... A doença que mais me maltrata e que mais me incomoda, não é a febre, não são as dores de dormir de mal jeito, não é o sono constante, não é a garganta inflamada, não são as aftas, não é o corpo cansado, não é a dor de cabeça, não é a fome, não é a falta de tempo... o que mais me incomoda é a saudade.
A incerteza de quando vou ver meus pais, ver meus irmãos, ver meu cachorro, meus primos, meus tios, minha família. É saber que todos entendem, que todos me apoiam, mas não entender bem o porque. Por que o tempo passa tão rápido que nem nos deixa viver? Ou será que, infelizmente, a vida me consumiu e não fui eu que consumi a vida?
A tristeza aumenta quando descobre que está perdendo as coisas mais simples da família... Não quero uma viagem para o Hawai ou então uma trilha no meio da floresta Amazônica... só quero poder ir em um almoço de domingo, comer, rir, beber, falar besteira, ouvir música, até todos dormirem. 
Eu não quero mais contar os aniversários que perdi de minha prima, ou então ouvir histórias dela falando "Porque ele não vem mais? Ele não gosta mais de mim?". Não quero ter a chance de chegar de volta em minha cidade e meu cachorro já não me reconhecer mais, porque é tão confortante abraçar ele com força ao abrir o portão de casa. Não quero perder a oportunidade de encontrar meu irmão, que fica por algumas horas só na cidade, por que estou fazendo favores de trabalhos, que eu deveria estar cobrando.
Não quero ouvir minha mãe perguntar outra vez, "Então já sabe quando vem?" ou pior, acabar ficando tempos sem se quer ouvir a voz de meu pai.
E nesse momento, quando paro para respirar e colocar tudo no lugar, esquecer de tudo que continua, incansavelmente, entorno de mim e simplesmente olhar com clareza, percebo que estou me formando, e que aquela velha promessa que "ao se formar as coisas se encaminham" eu vejo que meu caminho ficou pela metade, e então o desespero surge de novo. Tantas possibilidades incertas de vida, tantos caminhos pela metade vejo na minha frente e quanto mais eu olho, mais parece que o furacão vai aumentar.
O corpo já não aguenta mais, a mente vai e volta a todo o momento,  a alma parece não existir, fica a vontade daquela época em que tinha tempo para ouvir o silêncio da madrugada. Caminhar sem rumo, com o vento batendo na cara. Para em qualquer lugar e simplesmente ficar lá, sem pensar em nada e pensando em tudo.


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