segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Escuto o som da chuva que vem de fora... água que cai... tempo que passa.
Mais uma vez me encontro na escuridão de meu quarto, que só se quebra pelo baixo brilho da tela daquele velho companheiro de solidão e pelos raios que iluminam o céu e vazam pela janela para dentro.
Nesse momento tudo me atravessa. 
A inquietude do mundo, o vazio das almas, as amizades esquecidas, a incerteza da vida, a saudade. 
Na minha cabeça os pensamentos se cruzam e se confundem. Talvez, e só talvez, a percepção adquirida pelas outras pessoas sobre mim, impedem de entender que nem sempre eu tenho que ser eu, considerando que eu sou aquilo que as pessoas estão acostumadas a ver (mesmo que eu discorde em tantas instâncias dessa afirmação). A certeza da minha falta de sanidade (?) constroem e desconstroem quando eu insisto em surpreender a todos. 
Ser o que os outros esperam é sempre um caminho trabalhoso, mas com algumas certezas mais definidas. E esse caminho já não me convêm. 
A vida anda confusa, o ano não acaba, e a incerteza do que vai acontecer me rói e me corrói. Tantas trilhas incertas para seguir que me atraem tanto mais do que as certas. 
Se "insanidade é repetir a mesma ação e esperar resultado diferente" seria eu insano de querer mudar?
As vezes meu próprio corpo se divide, a razão, a emoção , o coração e todos os outros ruídos que vem de fora de mim, estão falando coisas diferentes. Quem seria o mais sensato? O futuro, o presente ou o passado?
Vontade que tenho:
-Hei ... vamos fugir? vamos viajar? Largar tudo e ver no que vai dar?
Quantas pessoas aceitariam um pedido assim?

sábado, 27 de dezembro de 2014

Hoje percebo o quanto eu cansei de decepcionar as pessoas. Eu crio, ou talvez os outros criem, eu não sei, uma expectativa em mim que não é real, e talvez eu nunca consiga fazer ser.
A vida se desmorona e o ano nunca tem fim.
Deixe-me fechar os olhos e aproveitar dessa pequena desgraça que existe em mim. Deixa que todas as memórias escorram sobre meu corpo e se evaporem no tempo. 
Aquele que não sabe ser feliz, talvez não mereça a felicidade.
Minha cabeça roda, e entorno o mundo me esmaga. Meus amigos, meus familiares, meus trabalhos, meus amores. 
Sou aquele estranho que por alguns segundos acerta algo a ser dito, se faz se visto, mas como a fragilidade de uma vela, se apaga em um sopro qualquer.
Eu não sou ninguém que merece ser ouvido, pois minhas palavras conquistam a crença de ninguém. Sou um saco de verdades estranhas, que de tão estranhas não são levadas a sério. 
Sou o que pude ser, aceitando a minha incapacidade de ser algo além.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

E eles se encontraram. Ninguém esperava absolutamente nada da noite, a não ser se molhar com a chuva que não cessava e chegar em casa de preferência sem ficar doente, considerando que ambos tinham a vida desmoronando em suas cabeças. 
Ele, com seus 27 anos, formado em engenharia, desempregado, sozinho, lutando dia após dia para sobreviver. Sem grandes ambições, sem futuro, sem saber o que fazer da vida.
Ela, na virilidade de seus 24 anos, advogada, ganhando visibilidade em sua área pelo trabalho excepcional que realiza. Formada como primeira da turma em uma das melhores faculdade de direito da região. Com seu futuro planejado e acontecendo.
Duas pessoas diferentes que se encontram na casualidade da vida.
Ele só vagava pela rua, pensando o que fazer com a vida. 
Ela voltava de sua corrida diária. 
Uma chuva que surge quase inesperadamente. 
Eles se trombam em uma esquina.
Se olham.
A chuva continua a cair.
O olhar dele, quase sem força, passa discretamente pelos olhos dela, sua falta de força de vontade o impede de pensar qualquer coisa.
- Desculpa.
O olhar dela, cheio de vida, de quem tem o mundo aos seus pés. Observa cada centímetro dele. Sorri. Um sorriso envolvente. Como se chamasse o verão para participar da conversa. 
- A culpa foi minha. Sempre desastrada. Nessa chuva então...
- Ela pegou a gente de surpresa!
- Como?
- A chuva...
- Ah! É verdade. Mas eu gosto de chuva. Como se fosse um chuveiro do mundo. (solta um riso bobo)
- Acho que esqueci minha toalha então. (mostra qualquer sinal de felicidade, um sorriso quase que não aparece em sua face)
- Melhor voltar para pegar então.
- Não tenho pressa, afinal, o chuveiro ainda está ligado.
- É verdade. E a gente parado aqui no meio do nada. Desculpa. A culpa é minha de novo. Você seguia seu caminho e eu te atrapalhei.
- Tudo bem. Só ia para casa.
- Então tchau. Desculpa novamente.
- Tchau. 
Mais uma vez se olham. O tempo parece dilatar. E a chuva insiste em cair. Quando os dois decidem se mexerem, percebem que seguem o mesmo caminho. Ele antecipa:
- Se vai para lá, posso te acompanhar.
- Obrigada.
Começam a caminhar. Se olham discretamente. 
Ela fica corada. 
Ele não percebe por estar escuro.
Andam sem falar nada, mas o sorriso vai se intensificando em cada um. Depois de alguns quarteirões ela fala.
- Eu viro aqui.
- E eu vou reto.
- Foi um prazer.
- Foi.
- Então tchau.
- Tchau.
Cada um segue seu caminho. Ficam na memória com esse encontro. Pensam sobre o outro. Constroem histórias intermináveis entre eles que nunca vão acontecer. Chegam em casa. Tomam um banho. Deitam. Pensam mais uma vez um no outro. E dormem. 
Depois disso, nunca mais se encontram.
Mais um salto, ou talvez um empurrão ... prefiro acreditar que nos demos as mãos e simplesmente deixamos a gravidade nos levar. Não posso negar em dizer que nada disso tenha se passado por mim, mas a incerteza de capacidades minhas me fazia acreditar que nada deixaria de ser diferente do que sempre foi. E assim, em tão pouco tempo, tudo que era certo se desconstrói. E mais uma vez eu quebro com expectativas, e surpreendo. Ou então, não deixei de ser nada além do que sempre fui, mas a distração dos outros se fazem presentes e insiste em se surpreenderem com a vida que se continua.
Hoje sentimentos estranhos se misturam. Hoje sinto saudades. Diversas saudades. Hoje chove lá fora e isso por algum motivo insiste em me incomodar.
O silêncio que nos abriga também nos deixam sem chão.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Velhos rostos que insistem em me assombrar.
Agora que a vida continua, que o mundo voltou a andar, porque te vejo estampado em outros lugares?
A consciência de que são coisas da minha cabeça me acalma, mas a insistência da possibilidade de eu estar aceitando o inevitável me assusto.
Te encontrei por segundos. O espanto ficou gravado em mim e como todos não perceberem isso?
Você já se foi a tanto tempo, porque insiste em pairar em minha vida como se fosse um fantasma?