quinta-feira, 12 de maio de 2016

Da onda.

Um dia vi minha vida desmoronar. Tudo se desfez como um simples laço de presente puxado pelos dois lados. De repente vi meus planos morrerem, me vi doente, me vi sozinho, me vi perdido. Olhei ao meu redor e só vi escuridão. Só vazios. Só ausências e dores.
Cheguei em lugares que nunca imaginei chegar. Me tornei o que nunca imaginei ser. Perdi por completo o que era, e depois que se perde é simplesmente impossível voltar a ser a mesma pessoa. Como esquecer machucados que ainda sangram em mim?
De qualquer maneira, me retirei do mundo por alguns meses, me afundei em mim mesmo na tentativa de me reencontrar. Depois de bons meses de um sofrimento que não estava acostumado a passar percebi que não podia estar sozinho. Mas também não queria estar com ninguém. 
Como qualquer pessoa com o minimo de sanidade, não me entreguei as festas e bebedeiras, o que pode ser o mais esperado. Me entreguei a meus amigos. Viajei repetidas vezes para encontrar pessoas que me confortavam. Não procurei por romances, por sexo ou coisas do gênero. Procurei por abraços, confortos, segurança e sorrisos. Procurei por coisas leves, por pessoas leves. Procurei a felicidade.
Já se passam mais de um semestre que tudo aconteceu e ainda não posso falar sem pestanejar que tudo já se passou, porque ainda me aperta o peito ouvir uma música, ver uma foto ou lembrar de algo assim.
Isso não é de todo ruim, tudo tem seu tempo e meu tempo de enterrar tais sentimentos em mim ainda não chegou, mas por outro lado, refleti sobre tudo que se foi. 
Um dia qualquer, li em um lugar qualquer, uma noticia em que dizia que os psicólogos comprovaram que não é possível ser amigo de alguém que realmente amou, ou continuam se amando, ou não se falam mais. 
Tenho minhas dúvidas sobre tal assunto, considerando meu histórico e por muita coisa que passei.
De qualquer maneira não é sobre isso que quero discutir, não exatamente, pelo menos.
Em um dos dias vazios de solidão das madrugadas, perdido em meu próprio quarto no escuro eu falava comigo mesmo, não aquelas conversas que são extrapoladas pela voz, mas aquelas constantes discussões que fazemos em nossas cabeças. Nela eu discutia comigo mesmo sobre amor, sobre continuidades, sobre se algum dia eu seria capaz de simplesmente passar por cima de tudo que se foi e ser "amigo" (ou qualquer coisa do gênero). Não que acredite que ela queira algo assim, só pelo simples fato de entender onde estou e o que sinto. Afinal, quem nunca ficou considerando todas as possibilidades da vida em sua própria cabeça, se preparando para qualquer acontecimento ou qualquer coisa do tipo?
Bom, eu faço isso de vez em quando.
Nessa conversa tentava entender como outros relacionamentos foram tão simples de se resolver antigamente. Um lugar que cheguei foi ser um pouco mais maduro em aceitar que certos amores que passei não foram tão amores como me fiz acreditar no momento. Isso pode acontecer quando a pessoa gosta de levar todos os sentimentos ao extremo e, talvez, eu seja um pouco assim. Tive alguns relacionamentos intensos que cheguei acreditar em amor, mas hoje vejo que foi paixão, admiração, tesão, ou qualquer coisa intensa, mas não amor.
Seguindo esse pensamento também encontrei algumas pessoas que amei e percebi que cada relacionamento em que o amor estava realmente envolvido o resultado foi totalmente diferentes (mesmo algumas similaridades). Cada amor tomou seu caminho.
Teve os que foram ser aflorar em amizade. Os que se tornaram história. Os que se repetiram. Os que simplesmente foram embora.
Engraçado, que esse que ainda tento entender foi o mais diferente de todos. Foi um amor devastador. Me pegou de surpresa e camuflado de serenidade foi devastando meu mundo, me transformado, me mudando. Não sei dizer ainda se isso foi realmente bom ou realmente ruim, ou se existe um equilíbrio que ainda não consegui encontrar, mas foi um amor profundo. 
Esse amor foi como uma onda. Ele veio com calma, mas me fazendo mergulhar por completo e quando estava dentro dessa onda, não consegui ver a força que estava caminhando, percebia o tamanho que tal onda alcançava, mas acreditei por inteiro que seria capaz de surfar por essas águas sem perceber que um tsunami se formava envolta de mim. Eu tentei nadar com essa onda, tentei nadar contra, até que simplesmente deixei ela me levar achando que a dor seria menor. O que não tinha percebido é que essa onda levaria muita mais do que meu corpo, levaria minha casa, minha sanidade, minha vontade de continuar nadando. E sem nem entender direito estava com os ossos quebrados em meio a destroços de vida que sobraram em volta de mim quando toda a água desse mar tinha voltado a ser o que simplesmente é... água.
Me encontrei em ruínas de mim. Via meus pedaços jogados pelos cantos. Vi meus sonhos destruídos. Via tudo que nunca quis ver.
Com isso, chego ao começo do meu texto, e talvez a me repetir, mas depois que um tsunami destrói tudo é impossível tudo voltar ao normal. Ali ficam memórias, ficam dores, ficam marcas. Você pode pegar um foto de como tudo era antes dessa força da natureza e tentar copia-la com perfeição, mas ela nunca será a mesma. Não vão ser as mesmas madeiras, os mesmos tijolos, a mesma árvore com o coração riscado no tronco lembrando de um amor de criança, ou então o mesmo buraco do canto da rua em que você usava para subir com a bicicleta, ou até mesmo aquele lugarzinho que você simplesmente se encaixava. Não vai ser a mesma tinta da parede entre tantas outras coisas não serão.
Talvez isso não seja algo ruim, talvez aceitar que nada será igual é necessário, mas desapegar de alguém que você gostava de ser é desapegar de metade de você e se você não é quem gosta de ser, quem é você?
Quem?

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