segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

E eles se encontraram. Ninguém esperava absolutamente nada da noite, a não ser se molhar com a chuva que não cessava e chegar em casa de preferência sem ficar doente, considerando que ambos tinham a vida desmoronando em suas cabeças. 
Ele, com seus 27 anos, formado em engenharia, desempregado, sozinho, lutando dia após dia para sobreviver. Sem grandes ambições, sem futuro, sem saber o que fazer da vida.
Ela, na virilidade de seus 24 anos, advogada, ganhando visibilidade em sua área pelo trabalho excepcional que realiza. Formada como primeira da turma em uma das melhores faculdade de direito da região. Com seu futuro planejado e acontecendo.
Duas pessoas diferentes que se encontram na casualidade da vida.
Ele só vagava pela rua, pensando o que fazer com a vida. 
Ela voltava de sua corrida diária. 
Uma chuva que surge quase inesperadamente. 
Eles se trombam em uma esquina.
Se olham.
A chuva continua a cair.
O olhar dele, quase sem força, passa discretamente pelos olhos dela, sua falta de força de vontade o impede de pensar qualquer coisa.
- Desculpa.
O olhar dela, cheio de vida, de quem tem o mundo aos seus pés. Observa cada centímetro dele. Sorri. Um sorriso envolvente. Como se chamasse o verão para participar da conversa. 
- A culpa foi minha. Sempre desastrada. Nessa chuva então...
- Ela pegou a gente de surpresa!
- Como?
- A chuva...
- Ah! É verdade. Mas eu gosto de chuva. Como se fosse um chuveiro do mundo. (solta um riso bobo)
- Acho que esqueci minha toalha então. (mostra qualquer sinal de felicidade, um sorriso quase que não aparece em sua face)
- Melhor voltar para pegar então.
- Não tenho pressa, afinal, o chuveiro ainda está ligado.
- É verdade. E a gente parado aqui no meio do nada. Desculpa. A culpa é minha de novo. Você seguia seu caminho e eu te atrapalhei.
- Tudo bem. Só ia para casa.
- Então tchau. Desculpa novamente.
- Tchau. 
Mais uma vez se olham. O tempo parece dilatar. E a chuva insiste em cair. Quando os dois decidem se mexerem, percebem que seguem o mesmo caminho. Ele antecipa:
- Se vai para lá, posso te acompanhar.
- Obrigada.
Começam a caminhar. Se olham discretamente. 
Ela fica corada. 
Ele não percebe por estar escuro.
Andam sem falar nada, mas o sorriso vai se intensificando em cada um. Depois de alguns quarteirões ela fala.
- Eu viro aqui.
- E eu vou reto.
- Foi um prazer.
- Foi.
- Então tchau.
- Tchau.
Cada um segue seu caminho. Ficam na memória com esse encontro. Pensam sobre o outro. Constroem histórias intermináveis entre eles que nunca vão acontecer. Chegam em casa. Tomam um banho. Deitam. Pensam mais uma vez um no outro. E dormem. 
Depois disso, nunca mais se encontram.

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