E mais uma noite qualquer, Luiz se via abandonado mais uma vez. Não que tivessem o abandonado, mas cada pensamento que passava por sua cabeça era de solidão, era de quem está perdido, sozinho, no nada. Cada pensamento ecoava em sua cabeça, fazia um som quase que inaudível que ia crescendo aos poucos, e em menos de um minuto já não agüentava mais aquele barulho. Sentia a cabeça latejando. Uma dor insuportável tomou seu corpo. Não sabia o que era aquilo, não sabia como fazer parar, não conseguia se quer “ouvir” seus próprios pensamentos. Sentia sua cabeça pesada e também sentia como se todo o peso que estava em sua cabeça multiplicasse e expandisse para cada célula de seu corpo. Um calafrio passou por ele, como se todos os medos do mundo invadisse seu corpo. Olhava ao redor em busca de um conforto, de uma ajuda, mas em vão, pois a única coisa que conseguia enxergar era a luz que entrava pela janela de seu apartamento. A janela se tornava atrativa, um brilho incomum acontecia nela, o vento soprava um pano improvisado de cortina no canto dela.
Tentava mudar seu olhar de lugar, mas algo acontecia com aquela luz. Era uma luz fraca, quase apagada, no meio de uma cidade como a dele, que passava vinte e quadro horas acesa, era imperceptível. Mas ali, naquela noite, naquela sala apagada, ela brilhava, e deixava Luiz hipnotizado. Ele era atraído por aquilo, ele se sentia confortável com aquela luz, mesmo sem saber o que era. Luiz quase se esqueceu da terrível dor de cabeça que estava, dos barulhos que dominava sua cabeça, quase esqueceu de sua solidão com aquela luz. Antes de ser dar conta à luz tinha desaparecido, e ele se encontrava novamente no escuro, não via mais nada dentro de sua sala. Sem aquela estranha luz para distraí-lo voltou a sentir a cabeça quase explodir, um som insuportável, uma vontade tremenda de vomitar, cada um de seus músculos se contraia com tanta força que chegava a doer, ele estava paralisado de dor, ele estava ficando louco, quando de repente, silêncio!
Não ouvia nada, nem um soprar de vento, nem um ruído, nem nada. Sentia sua cabeça livre de tudo, e no mesmo tempo não conseguia pensar, aquele silêncio que por alguns segundos parecia tão relaxante, alguns minutos depois tornariam agonizantes. Um gosto amargo caia em sua boca, um sentimento ruim tomava seu coração. Um calafrio corria sua espinha. Luiz estava atento, estava em alerta, não sabia por que, mas estava desesperadamente em alerta, com medo, com raiva. Espera atentamente algo acontecer, em algum momento estranho acreditou ter alguém em sua volta, acreditou que alguém andava em seu redor, e estava pronto para lhe bater. Olhava para todos os lados, apavorado. Não via nada, como era possível não ver nada, nem se quer um vulto, uma sombra, qualquer coisa.
Sentia como se seus próprios sentidos estivessem brincando com ele. Sentia-se estranho, mais uma vez se sentia sozinho. Muito sozinho, como se o mundo estivesse vazio, como se ele estivesse vazio. Varias vezes teve duvida em saber se tinha algum sentimento. Não odiava, não amava, não sentia nada. Absolutamente nada. Viu sua própria imagem sentada no sofá, como de terceiro plano, com uma cara de pavor, com medo, com frio, sozinho, confuso, quase perdendo o que restava de sua sanidade.
Em um piscar de olhos já estava em seu corpo, se sentindo exatamente, ou ate pior, como tinha se visto.
Luiz ficou lá, sentado, na confusão de sua vida, no silencio, na escuridão, no abandono, no desespero, na insanidade, na solidão. Ficou lá sentado esperando, não tinha o que ou quem esperar, e se tivesse já não se importaria mais, pois sabia que ninguém iria o esperar. Ele estava sozinho, como nunca esteve, como nunca imaginou estar. Depois de algum tempo, que pare ele parecia horas, mas no relógio não passava de minutos, um som o surpreendeu. Uma buzina qualquer na rua o acordará. Tudo que passou tinha acabado, e ele não sabia o que tinha acontecido, pensou ser um sonho, mas tinha certeza que não dormiu. Pensou em varias hipóteses totalmente ridículas, impossíveis de ser verdade. Depois de pensar por varias horas em tudo aquilo, acabou pegando no sono. Acordou no outro dia, e sua rotina voltou a ser como antes, e ele não pensava mais nisso, mesmo todos os sentimentos sendo reais e continuarem com ele. Luiz não pensava mais nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário